Apresentação
Nos últimos anos, os cursos de geografia do Estado do Pará estão cada vez mais se aproximado do conhecimento cartográfico. Entretanto, como todo processo de inserção e amadurecimento conceitual, muitos são os percalços encontrados ao longo do caminho. Muitos estudantes e profissionais ligados à pesquisa desenvolvem seus conhecimentos sobre os softwares, e aplicam formulas de geoprocessamento sobre diferentes tipos de camadas vetoriais e buscam uma resposta a sua pesquisa.
Entretanto,
estes estudantes e pesquisadores acabam por encontrar serias limitações no
desenvolvimento de suas pesquisas com a falta de uma leitura integrada do
conhecimento. A geografia quando analisada e interpreta um fenômeno espacial,
deve encontrar na cartografia um modelo de representação capaz de transcrever
por meio da escrita gráfica o fenômeno, no geoprocessamento realizado sobre as
camadas vetoriais, novas informações são geradas, possibilitando reforçar a
tese inicialmente levantada.
Introdução
Na mudança de século, o uso da representação
cartográfica deixou de responder a pergunta onde? e passou a responder questões
relacionadas aos agentes que interferem no espaço, como: Por quê? Quando? Por
quem? em que finalidade? Para quem? de que modo?
Sobre
este olhar, a cartografia vem sendo desenvolvida nas turmas de geografia da
Universidade do Estado do Pará (UEPA), e em cursos ofertados aos alunos da
turma de geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) por meio do Grupo
Acadêmico de Produção do Território e Meio Ambiente da Amazônia (GAPTA-UFPA).
Um novo processo de amadurecimento do conhecimento cartográfico se inicia
também pelo Grupo Geoprocessamento, Cartografia e Agrária na Amazônia
(GEOCARTA-UEPA), com o propósito de aproxima a prática docente à pesquisa.
Para
isso, integrasse os conhecimentos sobre as categorias geográficas, os
fundamentos cartográficos, e sua aplicação por meio de softwares de
geoprocessamento e interpretação de imagens. Contextualizando o conhecimento
com temas afins da ciência geográfica.
Coleta de Dados e Geração de Informação
Neste
pequeno artigo, abordaremos os focos de incêndios registrados em duas semanas
no Brasil, e posteriormente verificaremos como geograficamente se distribuem
entre os Biomas brasileiros.
Tendo o
objetivo projetado, vamos as fontes de dados mais confiáveis para a análise; a
consulta ao demonstrativo disponibilizado pela Administração Nacional da
Aeronáutica e do Espaço – National Aronautics and Space Administration (NASA),
onde o sensor remoto acoplado ao satélite aero espacial. Em suas orbitas foram
captados somente na segunda semana, no intervalo que vai dos dias 14 e
21 de setembro de 2014, o registro de 131.423 focos de incêndios no Mundo.
Estes
dados são especializados e a partir do uso do geoprocessamento, foi possível
quantificar estes valores por países. O Brasil registrou 19.480 focos de
incêndios, em termos proporcionais o país participou com 13% dos focos de
incêndios no mundo, conforme a figura abaixo:
Focos de Queimadas
|
Total
|
Percentual
|
Mundo
|
131.423
|
87%
|
Brasil
|
19.480
|
13%
|
Este
primeiro extrato nos permite uma primeira compreensão da espacialidade dos
focos de queimadas. Entretanto, as informações apreendidas em uma semana são
indicativos que podem representar um fenômeno isolado. Para tanto, na semana
seguinte, no intervalo dos dias 22 à 29 de setembro, os registros somaram o
total de 89.795 focos de incêndios. Em termos proporcionais, o Brasil,
participou com 14%, mesmo com a redução para 14.528 registros, conforme a
tabela a seguir:
Focos de Queimadas
|
Total
|
Percentual
|
Mundo
|
89.795
|
86%
|
Brasil
|
14.528
|
14%
|
O mundo e
o Brasil, reduziram os registros de incêndios. Entretanto, o Brasil ainda
apresenta elevados índices de queimadas em relação aos demais países.
De posse
destes dados, que subsidiam esta análise; são necessários os cruzamentos destes
registros especializados nos limites dos Biomas. Pois, a congregação de
diferentes ecossistemas com comunidades biológicas, organismos de fauna e da
flora, formam um Bioma. A perca destes organismos gera fortes distúrbios no
ecossistema promovendo mudanças climáticas, hídricas, de solo, etc. Assim,
busca-se mensurar até que ponto os registros de queimadas ameaçam os biomas
brasileiros.
Para a
realização deste cruzamento, cabe a busca da camada vetorial correspondente
entre as instituições responsáveis pela delimitação dos Biomas. Assim, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), disponibiliza a malha
geográfica digitalizada em 2005, contendo os seguintes Biomas terrestres:
Amazônico, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa.
O Sistema
de Informação Geográfica (SIG), tem contribuído para a análises espaciais.
Dentre os vários softwares em plataforma SIG, o Quantum GIS 2.4.0 (versão
Chuagiak) tem possibilitado o cruzamento de informações entre duas ou mais
camadas vetoriais. Neste sentido, é possível mensurar o quantitativo dos
registros de incêndios no Brasil, cruzando pelos limites dos Biomas
brasileiros, considerando os comparativos entre semanas.
Na
primeira semana mensurada (14 à 21 de setembro de 2014), o Brasil teve o
registro de 19.480 registros de ocorrências de incêndio, que podem ser melhor
compreendidos na tabela a seguir:
Bioma
|
Total
|
Percentual
|
|
Cerrado
|
11.165
|
57%
|
|
Amazônico
|
5.496
|
28%
|
|
Mata Atlântica
|
1.675
|
9%
|
|
Caatinga
|
1.022
|
5%
|
|
Pantanal
|
120
|
1%
|
|
Pampa
|
2
|
Menos de 1%
|
|
Fonte: NASA (2014) e IBGE (2005);
Org. CASTRO, C. J. N. 2014.
|
Analisando
a tabela e o gráfico acima, observa-se o elevado número de registros de
queimadas no bioma cerrado ao alcançar 57% do total de queimadas ao somar
11.165 focos de queimadas, seguido pelo bioma amazônico com 5.496 registros
participando com 28% do total; o bioma pampa foi o que menor participação no
índice de queimadas ao registrar apenas 2 focos de queimadas em seu limite.
Analisar
os registros no intervalo de 14 a 21, nos apresenta uma temporalidade. Sendo
necessária para efeitos comparativos um novo período de análise. O ideal é que
este compreendesse a uma maior escala temporal, como intervalos que levassem em
comparação os registros de focos de incêndios ao longo de um mês, e que fosse
considerado de dois a três anos de análise. Entretanto, para efeito
demonstrativo do uso do geoprocessamento por meio do uso do software Quantum
GIS, foi considerado o processamento feito sobre os dados da semana posterior,
no intervalo de 22 à 29 de setembro de 2014.
Seguindo a mesma metodologia foi
possível compreender que mesmo no declínio do total de registro de 14.528
incêndios. Distribuídos nos seguintes biomas:
Bioma
|
Total
|
Percentual
|
|
Cerrado
|
6.092
|
42%
|
|
Amazônico
|
6.175
|
43%
|
|
Mata Atlântica
|
1.148
|
8%
|
|
Caatinga
|
999
|
7%
|
|
Pantanal
|
70
|
Menos de 1%
|
|
Pampa
|
40
|
Menos de 1%
|
|
Fonte: NASA (2014) e IBGE (2005);
Org. CASTRO, C. J. N. 2014.
|
De posse das informações preliminares descritas nos gráficos acima pode-se compreender que a redução mundial nos focos de incêndios em termos proporcionais foi maior que a redução brasileira. Em comparação, o Bioma Amazônico aumentou sua participação em valores reais e em termos proporcionais; o bioma Cerrado reduziu quase a metade seu índice de incêndios tendo uma sensível participação na segunda semana; a Mata Atlântica acompanhou o declino com sua redução em valores reais em termos proporcionais; contudo, o Bioma Caatinga, reduziu os registros, mas elevou sua participação em 2%. Quanto aos biomas Pantanal e Pampa, suas participações no índice de queimadas caiu para menos de 1%. Este indicativo pode estar relacionado aos limites dos biomas.
A apresentação de gráficos
ilustrativos deve antecipar a representação cartográfica, no âmbito de
preparar o leitor, no propósito de correspondência dos dados, com informações,
espacializados na representação.
Da Informação à Representação Cartográfica
As informações descritas acima são reforçadas pela representação cartográfica a seguir, que realiza uma rápida análise comparativa entre as semanas do dia 21 à 28 de setembro, e da semana que vai do dia 22 à 29 de setembro de 2014. Tratando de uma rápida análise temporal.
A compreensão
da problemática apresentada, neste caso, o registro de focos de incêndios no
Brasil e sua incidência nos Biomas, por se tratar de um elevado número de
registros, na representação isso não fica tão preciso enquanto elemento
pontual, podendo ser apreendido enquanto elemento zonal, deste modo os gráficos
anteriores representam bem e compre a limitação de identificação de cada
registro.
Considerações
A
concepção de mapa hoje encontra-se vazia em critério de análise, muitos
pesquisadores ao solicitarem um mapa para seu trabalho acaba por menosprezá-lo,
deixando como coadjuvante.
Nos
últimos anos venho levantando a questão de se pensar em Projeto Cartográfico
como suporte ao Projeto de Pesquisa, trata-se de desenvolver a pesquisa
simultaneamente com o desenvolvimento cartográfico, como o reconhecimento da
importância dos elementos geométricos, escalares, e métodos de simbolização gráfica.
Um mapa
não deve ser feito em menos de 24 horas, a menos que o pesquisador o conceba
a bastante tempo; elaborar um mapa não é uma tarefa mecânica, todos os seus
elementos devem ser anteriormente projetados para então se concebido.
Nem tudo
é mapa, tão pouco um “mapinha”, uma reflexão profunda sobre o espaço em que se
deseja representar não pode ser descriminada desta forma. Os desconhecedores
das técnicas [inclusive os inseguros no seu manuseio] aceitam piadinhas de mau gosto, por pessoas que desconhecem o princípio fundamental da rosa-dos-ventos, mesmo
aquelas tenham tatuagens que a representam.
Por
agradeço sua visita e esperamos ter contribuído para uma nova concepção de
leitura sobre as representações cartográficas, este exercício pode ser
perfeitamente aplicado em sala de aula com professores da rede básica de
ensino.
Geógrafo Especialista.
Carlos Jorge N. de Castro.
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