quinta-feira, 30 de outubro de 2014

POR UMA NOVA LEITURA SOBRE AS REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS


        Apresentação

            Nos últimos anos, os cursos de geografia do Estado do Pará estão cada vez mais se aproximado do conhecimento cartográfico. Entretanto, como todo processo de inserção e amadurecimento conceitual, muitos são os percalços encontrados ao longo do caminho. Muitos estudantes e profissionais ligados à pesquisa desenvolvem seus conhecimentos sobre os softwares, e aplicam formulas de geoprocessamento sobre diferentes tipos de camadas vetoriais e buscam uma resposta a sua pesquisa.

Entretanto, estes estudantes e pesquisadores acabam por encontrar serias limitações no desenvolvimento de suas pesquisas com a falta de uma leitura integrada do conhecimento. A geografia quando analisada e interpreta um fenômeno espacial, deve encontrar na cartografia um modelo de representação capaz de transcrever por meio da escrita gráfica o fenômeno, no geoprocessamento realizado sobre as camadas vetoriais, novas informações são geradas, possibilitando reforçar a tese inicialmente levantada.


Introdução
Na mudança de século, o uso da representação cartográfica deixou de responder a pergunta onde? e passou a responder questões relacionadas aos agentes que interferem no espaço, como: Por quê? Quando? Por quem? em que finalidade? Para quem? de que modo?

Sobre este olhar, a cartografia vem sendo desenvolvida nas turmas de geografia da Universidade do Estado do Pará (UEPA), e em cursos ofertados aos alunos da turma de geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) por meio do Grupo Acadêmico de Produção do Território e Meio Ambiente da Amazônia (GAPTA-UFPA). Um novo processo de amadurecimento do conhecimento cartográfico se inicia também pelo Grupo Geoprocessamento, Cartografia e Agrária na Amazônia (GEOCARTA-UEPA), com o propósito de aproxima a prática docente à pesquisa.

Para isso, integrasse os conhecimentos sobre as categorias geográficas, os fundamentos cartográficos, e sua aplicação por meio de softwares de geoprocessamento e interpretação de imagens. Contextualizando o conhecimento com temas afins da ciência geográfica.


        Coleta de Dados e Geração de Informação
Neste pequeno artigo, abordaremos os focos de incêndios registrados em duas semanas no Brasil, e posteriormente verificaremos como geograficamente se distribuem entre os Biomas brasileiros.

Tendo o objetivo projetado, vamos as fontes de dados mais confiáveis para a análise; a consulta ao demonstrativo disponibilizado pela Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço – National Aronautics and Space Administration (NASA), onde o sensor remoto acoplado ao satélite aero espacial. Em suas orbitas foram captados somente na segunda semana, no intervalo que vai dos dias 14 e 21 de setembro de 2014, o registro de 131.423 focos de incêndios no Mundo.

Estes dados são especializados e a partir do uso do geoprocessamento, foi possível quantificar estes valores por países. O Brasil registrou 19.480 focos de incêndios, em termos proporcionais o país participou com 13% dos focos de incêndios no mundo, conforme a figura abaixo:

Focos de Queimadas
Total
Percentual
Mundo
131.423
87%
Brasil
19.480
13%

Este primeiro extrato nos permite uma primeira compreensão da espacialidade dos focos de queimadas. Entretanto, as informações apreendidas em uma semana são indicativos que podem representar um fenômeno isolado. Para tanto, na semana seguinte, no intervalo dos dias 22 à 29 de setembro, os registros somaram o total de 89.795 focos de incêndios. Em termos proporcionais, o Brasil, participou com 14%, mesmo com a redução para 14.528 registros, conforme a tabela a seguir:


Focos de Queimadas
Total
Percentual
Mundo
89.795
86%
Brasil
14.528
14%

O mundo e o Brasil, reduziram os registros de incêndios. Entretanto, o Brasil ainda apresenta elevados índices de queimadas em relação aos demais países.

De posse destes dados, que subsidiam esta análise; são necessários os cruzamentos destes registros especializados nos limites dos Biomas. Pois, a congregação de diferentes ecossistemas com comunidades biológicas, organismos de fauna e da flora, formam um Bioma. A perca destes organismos gera fortes distúrbios no ecossistema promovendo mudanças climáticas, hídricas, de solo, etc. Assim, busca-se mensurar até que ponto os registros de queimadas ameaçam os biomas brasileiros.

Para a realização deste cruzamento, cabe a busca da camada vetorial correspondente entre as instituições responsáveis pela delimitação dos Biomas. Assim, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), disponibiliza a malha geográfica digitalizada em 2005, contendo os seguintes Biomas terrestres: Amazônico, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa.

O Sistema de Informação Geográfica (SIG), tem contribuído para a análises espaciais. Dentre os vários softwares em plataforma SIG, o Quantum GIS 2.4.0 (versão Chuagiak) tem possibilitado o cruzamento de informações entre duas ou mais camadas vetoriais. Neste sentido, é possível mensurar o quantitativo dos registros de incêndios no Brasil, cruzando pelos limites dos Biomas brasileiros, considerando os comparativos entre semanas.

Na primeira semana mensurada (14 à 21 de setembro de 2014), o Brasil teve o registro de 19.480 registros de ocorrências de incêndio, que podem ser melhor compreendidos na tabela a seguir:


Bioma
Total
Percentual


Cerrado
11.165
57%
Amazônico
5.496
28%
Mata Atlântica
1.675
9%
Caatinga
1.022
5%
Pantanal
120
1%
Pampa
2
Menos de 1%
Fonte: NASA (2014) e IBGE (2005);
Org. CASTRO, C. J. N. 2014.

Analisando a tabela e o gráfico acima, observa-se o elevado número de registros de queimadas no bioma cerrado ao alcançar 57% do total de queimadas ao somar 11.165 focos de queimadas, seguido pelo bioma amazônico com 5.496 registros participando com 28% do total; o bioma pampa foi o que menor participação no índice de queimadas ao registrar apenas 2 focos de queimadas em seu limite.
            
          Analisar os registros no intervalo de 14 a 21, nos apresenta uma temporalidade. Sendo necessária para efeitos comparativos um novo período de análise. O ideal é que este compreendesse a uma maior escala temporal, como intervalos que levassem em comparação os registros de focos de incêndios ao longo de um mês, e que fosse considerado de dois a três anos de análise. Entretanto, para efeito demonstrativo do uso do geoprocessamento por meio do uso do software Quantum GIS, foi considerado o processamento feito sobre os dados da semana posterior, no intervalo de 22 à 29 de setembro de 2014.

         Seguindo a mesma metodologia foi possível compreender que mesmo no declínio do total de registro de 14.528 incêndios. Distribuídos nos seguintes biomas:

Bioma
Total
Percentual



Cerrado
6.092
42%
Amazônico
6.175
43%
Mata Atlântica
1.148
8%
Caatinga
999
7%
Pantanal
70
Menos de 1%
Pampa
40
Menos de 1%
Fonte: NASA (2014) e IBGE (2005);
Org. CASTRO, C. J. N. 2014.


        De posse das informações preliminares descritas nos gráficos acima pode-se compreender que a redução mundial nos focos de incêndios em termos proporcionais foi maior que a redução brasileira. Em comparação, o Bioma Amazônico aumentou sua participação em valores reais e em termos proporcionais; o bioma Cerrado reduziu quase a metade seu índice de incêndios tendo uma sensível participação na segunda semana; a Mata Atlântica acompanhou o declino com sua redução em valores reais em termos proporcionais; contudo, o Bioma Caatinga, reduziu os registros, mas elevou sua participação em 2%. Quanto aos biomas Pantanal e Pampa, suas participações no índice de queimadas caiu para menos de 1%. Este indicativo pode estar relacionado aos limites dos biomas.

 A apresentação de gráficos ilustrativos deve antecipar a representação cartográfica, no âmbito de preparar o leitor, no propósito de correspondência dos dados, com informações, espacializados na representação.


 Da Informação à Representação Cartográfica

        As informações descritas acima são reforçadas pela representação cartográfica a seguir, que realiza uma rápida análise comparativa entre as semanas do dia 21 à 28 de setembro, e da semana que vai do dia 22 à 29 de setembro de 2014. Tratando de uma rápida análise temporal.


A compreensão da problemática apresentada, neste caso, o registro de focos de incêndios no Brasil e sua incidência nos Biomas, por se tratar de um elevado número de registros, na representação isso não fica tão preciso enquanto elemento pontual, podendo ser apreendido enquanto elemento zonal, deste modo os gráficos anteriores representam bem e compre a limitação de identificação de cada registro.

        Considerações

A concepção de mapa hoje encontra-se vazia em critério de análise, muitos pesquisadores ao solicitarem um mapa para seu trabalho acaba por menosprezá-lo, deixando como coadjuvante.

Nos últimos anos venho levantando a questão de se pensar em Projeto Cartográfico como suporte ao Projeto de Pesquisa, trata-se de desenvolver a pesquisa simultaneamente com o desenvolvimento cartográfico, como o reconhecimento da importância dos elementos geométricos, escalares, e métodos de simbolização gráfica.

Um mapa não deve ser feito em menos de 24 horas, a menos que o pesquisador o conceba a bastante tempo; elaborar um mapa não é uma tarefa mecânica, todos os seus elementos devem ser anteriormente projetados para então se concebido.

Nem tudo é mapa, tão pouco um “mapinha”, uma reflexão profunda sobre o espaço em que se deseja representar não pode ser descriminada desta forma. Os desconhecedores das técnicas [inclusive os inseguros no seu manuseio] aceitam piadinhas de mau gosto, por pessoas que desconhecem o princípio fundamental da rosa-dos-ventos, mesmo aquelas tenham tatuagens que a representam.

Por agradeço sua visita e esperamos ter contribuído para uma nova concepção de leitura sobre as representações cartográficas, este exercício pode ser perfeitamente aplicado em sala de aula com professores da rede básica de ensino.


Geógrafo Especialista.
Carlos Jorge N. de Castro.

sábado, 11 de outubro de 2014

Google Earth: Criação de Temas Vetoriais

     A criação de vetores no Google Earth é um dos vários questionamentos, que os alunos da geografia e de áreas afins, me fazem quando em disciplinas ou cursos de geoprocessamento que ministro; seja na Universidade do Estado do Pará (UEPA), seja pelo Grupo Acadêmico de Produção do Território e Meio Ambiente na Amazônia (GAPTA – UFPA), ou no Grupo Geoprocessamento, Cartografia e Agrária na Amazônia (GEOCARTA – UEPA). Após várias solicitações acerca do procedimento de vetorização, assim chegamos a elaboração deste rápido tutorial que visa: Google Earth: Criação de Temas Vetoriais

    Como área a ser vetorizada, está um recorte urbano do município de Salvaterra (PA), localizado na ilha do Marajó. O Município possui uma forte marca histórica e geográfica, sobretudo pela Vila do Joanes que foi construída no século XVII pela Ordem dos Jesuítas. O município guarda grandes particularidades históricas para a formação do território paraense. Apesar do município remontar a formação do território paraense, a densidade populacional é considerada baixa, pois em acordo com os dois últimos censos 2000 e 2010 (IBGE) a população teve um acréscimo de 5.066 habitantes, destes 10.292 do sexo masculino, e 9.892 do sexo feminino; entretanto, observa-se a concentração da população no ambiente urbano, com 12.681 habitantes, o restante 7.503 habitantes em ambiente rural, ver tabela abaixo.

Nome do Município
Total da População 2000
Total de Homens 2010
Total de Mulheres 2010
Total da Pop. Urbana 2010
Total da Pop. Rural 2010
Total da População 2010
Salvaterra
15.118
10.292
9.892
12.681
7.503
20.184
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Censos 2000 e 2010.
Org. CASTRO, C. J. N. 2014.
    
  Diante da constatação da concentração da população em ambiente urbano, verificou-se a possibilidade de compreender a forma urbana da cidade. Assim, um primeiro levantamento sobre o município busca a compreensão da disposição das quadras no ambiente urbano da cidade de Salvaterra-PA. Diante do exposto aplicamos a necessidade de demonstração método de Criação e Edição de Temas Vetoriais, contextualizado com a geografia e a história do município de Salvaterra-PA.

      Google Earth: Criação de Temas Vetoriais

    Abrindo o Google Earth, clique em Meus Lugares > Lugares temporários.

    Em Lugares temporários, clique com o botão direito > Adicionar > Pasta.



Em Novo Pasta, você determina o nome da camada que você deseja gerar [Ex.: Ruas, Quadras, Bairros, Áreas de Disputa de Gangues, etc.] > Ok.

  Observe que a pasta Salvaterra Quadras vai surgir na parte superior esquerda (abaixo de meus documentos) da tela.



Antes de iniciar o processo de edição e de criação das poligonais de interesse, você precisa configurar uma simbologia adequada para o processo de vetorização de múltiplas áreas (principalmente se elas estivem em sobreposição).

    Clique em Adicionar Polígono.




   Antes de clicar nos limites, vá em nome e caracterize a área a ser vetorizada [desenhada]; neste caso: Quadra, agora selecione a aba estilo/cor; estabeleça: 

Linha, Cor: Vermelha, Largura: 1,5; Opacidade: 100%;
Área, Cor: Amarela; mude o estilo para Sólido + Circunscrito; 70% transparente[1].

Inicie a vetorização.



    Em edição, clique nos limites desejados em sua geometria [vai aparecer as linhas e uns pontos quadrados, estes são chamados de vértices, o verde representa o último vértice demarcado].

Ao fim de sua edição, clique em OK.


    Assim, você obteve a primeira poligonal [Quadras].

    Veja que abaixo da Pasta Salvaterra Quadras, você tem a feição Quadras.



     Agora você iniciar, quase o mesmo processo para vetorizar [desenhar] uma nova área.

     Clique em Adicionar Polígono.



   Nesta etapa você não precisa modificar os parâmetros de simbolização; pois, estes foram organizados na etapa anterior.


      No processo de vetorização [desenho das geometrias] você pode sobrepor os limites, não há problemas quanto a isso. Mas entenda que a atual geometria, neste caso Quadra, está representada pela cor vermelha, com cada vértice a mostra.

      Ao fim da segunda vetorização > OK.



       Ao fim, note que você possui mais de duas feições em uma Pasta [mais adiante sua Pasta irá gera uma Camada Vetorial, que pode ser um formato shp, kml, dxf, entre outros.].

      Acredito que você já tenha autonomia para desenvolver seu trabalho. Mas, lembre-se que se você for vetorizar outro tema, você deve criar uma nova pasta [com o nome do mesmo].

     Construa suas geometrias com o máximo de rigor possível, e lembre-se a pressa não pode dominar seu trabalho. A concepção de representação cartográfica [Mapa, carta, Planta ou Croqui] está mudando, não corra o risco de receber críticas por pular etapas importantes para seu projeto cartográfico. Neste tutorial partimos da origem, da construção de dados vetoriais, que podem resultar em uma planta, neste caso da área urbana de Salvaterra-PA. Contudo, a representação deverá ser realizada em outro software, como sugestão oriento o Quantum GIS

Geógrafo Especialista.
Carlos Jorge N. de Castro.



[1] Ainda não dê o Ok, inicie o processo de vetorização demarcando os limites constatados em Campo.


AMAZÔNIA: CARTOGRAFIA E ANÁLISE DIDÁTICA DO ESPAÇO AGRÍCOLA

A Revista InterEspaço, organizada pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGGEO), e do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Geo...