Nos dias 06 e 07 de junho, pesquisadores do Grupo de
Estudos e Observação Cartográfica da Amazônia (GEOCAM) participaram da
disciplina de Trabalho de Campo Interdisciplinar I com a turma de Geografia
2018, advinda de Belém. A disciplina foi conduzida sob a supervisão do
professor Dr. Clay Anderson Nunes Chagas (Lab-Geovcrim), e o professor Msc.
Carlos Jorge Nogueira de Castro (Geocam e Lab-Geovcrim).
Na cidade de Castanhal, os professores a turma receberam os pesquisadores, Francisco Lopes e Rodrigo Sá, que na oportunidade apresentaram suas pesquisas acerca formação das cidades da região frente ao empreendimento da antiga Estrada de Ferro de Bragança (EFB), buscando resgatar e compreender o processo histórico-geográfico que essa desempenhou para a formação da rede urbana do Nordeste Paraense, dotado de uma certa particularidade diante da formação da rede urbana da Região Amazônica.
Castanhal, importante cidade da Antiga EFB, os acadêmicos de geografia foram recebidos pelo pesquisador Rodrigo Sá, que resgatou a historicidade do município, bem como sua configuração socioeconômica e espacial que persiste no cenário atualmente, conciliando importantes debates, tais como Ribeiro (2017) que analisou a configuração da estrutura e organização do espaço da mesorregião nordeste paraense ao longo de três períodos - Embrionário, Colonização, Expansão das rodovias.
Durante o diálogo com os acadêmicos, destacou-se, as
complexas interações espaciais desempenhadas pelo município diante de uma
realidade que compõe a Região Metropolitana de Belém (RMB) e outra que atua
como uma centralidade de influência frente aos demais municípios da Região
Nordeste do Pará. Após esse primeiro momento, ocorrido nos espaços da
Praça do Estrela onde se encontra a locomotiva Maria Fumaça, ainda pela parte
da manhã, os discentes do curso de Geografia foram conduzidos até o Complexo de
Feiras Livre de Castanhal, lócus de
pesquisa do professor Assis Lopes.
Neste segundo momento, o referido professor fez uma
explanação a respeito do funcionamento da feira, e da participação que a
expansão da mobilidade do transporte rural possui para a organização e
interações espaciais entre Castanhal e algumas comunidades de municípios
pertencentes a sua área de influência. Assim, orientou-se aos discentes que esses realizassem
entrevistas com os agentes que contribuem para o fluxo de capital na feira e,
dessa forma, as entrevistas foram conduzidas aos comerciantes locais; aos
agentes diretamente ligados à mobilidade do transporte rural; e, a comunidade
que se utiliza dos espaços da feira.
IGARAPÉ-AÇU
Mercado Velho
No dia 06 de junho, às quatorze
horas, houve a acolhida do pesquisador J. Filho aos acadêmicos e professores
Carlos Jorge e Clay Anderson de Geografia da Universidade do Estado do Pará na
Praça do Centro Cultural Mercado Velho relativo ao Trabalho de Campo
Interdisciplinar I.
No ensejo, o professor e líder do
grupo Geocam Carlos Jorge e o professor e vice-reitor Clay Anderson fizeram a
apresentação entre os acadêmicos e o pesquisador. Em seguida, J. Filho explanou
brevemente sobre o contexto histórico e geográfico de Igarapé-Açu e sua
importância estratégica no Nordeste Paraense, capitaneado pela Estrada de Ferro
Belém-Bragança, importante na colonização, no fluxo de pessoas e mercadorias, e
também na consolidação da agricultura regional.
Continuando, J. Filho direcionou o
diálogo para o objeto principal de sua pesquisa, a expansão da dendeicultura e
a territorialização da Palmasa em Igarapé-Açu, destacando os agentes diretos e
indiretos envolvidos no sistema produtivo do dendê, nas relações e nas
transformações do espaço agrário e agrícola local.
UFRA/FEIGA e Base
Aérea
No segundo momento dessa tarde
visitamos a Fazenda Escola da Universidade Federal Rural da Amazônia –FEIGA. Na
oportunidade, os acadêmicos foram recebidos pela Sra. Kássia, gerente local e
também pelo Sr. Arquimedes, servidor da FEIGA, onde conheceram as instalações
locais e também conversaram com outros servidores da instituição. Nesse espaço
estava ocorrendo uma atividade do Movimento Moeda Verde de Igarapé-Açu,
inclusive com presença de acadêmicos da Uepa. A reciprocidade foi elevada pelos
representantes institucionais com a perspectiva de novas parcerias em breve.
Depois, prosseguindo com as
atividades, direcionamo-nos para a Base Aérea, espaço histórico de Igarapé-Açu
pertencente a Aeronáutica sob responsabilidade da UFRA/FEIGA. J. Filho explanou
sobre a Base Aérea, uma “rugosidade” (Santos, 2006) que no contexto da Segunda Guerra
Mundial representou e materializou a geopolítica e os anseios dos agentes hegemônicos
e hegemonizados no período desse evento bélico. Hoje, esse espaço é ocupado por
pequenos produtores que residem e praticam a agricultura de subsistência. O
professor Clay Anderson reforçou o diálogo enfatizando sobre os reais
interesses dos americanos e alemães, líderes dos grupos opostos na Segunda
Guerra Mundial, principalmente sobre os intensos bombardeios entre ambos no
Atlântico, às proximidades do litoral brasileiro.
Com a ajuda do senhor Adriano Carvalho,
seguimos mostrando os antigos alojamentos, a torre móvel de atracação de
“Zepellins” que hoje serve de base para uma caixa d´água, o refeitório, a pista
de pouso reta de 1500 metros que se encontra desativada e as demais ruínas,
além do cultivo de diversas culturas pelos moradores que ocupam o espaço da
Base Aérea.
Comunidade
do Mangueirão - KM 9 PA-127
Como última parada do nosso roteiro
do dia 07, visitamos a Comunidade do Mangueirão, no KM 09 sentido
Igarapé-Açu/Maracanã e fomos recebidos pelo Sr. Luciano Braga, que além de
agricultor também tem formação em Técnico Agrícola. Na oportunidade, o
pesquisador J. Filho fez uma pequena apresentação entre o anfitrião e os
acadêmicos e professores, e também introdução sobre a temática abordada pelo
Luciano.
O Sr. Luciano Braga reportou sobre o
histórico dele e de seu genitor, o Sr. Elias Braga sobre as práticas utilizadas
no cultivo e produção em sua propriedade. Primeiramente, explanou sobre o
modelo tradicional utilizado pelos agricultores locais que passa de geração para
geração, o sistema convencional de corte e queima, sem uso alguns de
tecnologias e assistências. Em seguida, ressaltou sobre a importância da
mudança de conduta ao participar de um projeto capitaneado pela Embrapa em
parcerias com algumas associações onde teriam acesso a um novo modelo de
usufruir da propriedade.
J. Filho que outrora também
participara dessa iniciativa, reforçou a discussão a respeito do uso de novas
tecnologias no campo. Trata-se do sistema corte e trituração, onde ao invés de
queimar a capoeira ela seria triturada por um implemento agrícola adaptado e
seria feito o plantio direto aproveitando os nutrientes do solo armazenados com
a decomposição da biomassa.
Com essa prática mais sustentável
foi possível explorar pequenas aéreas e nas mesmas, além de introduzir inúmeras
variedades de culturas anuais, também consorciada com frutíferas regionais e
essências florestais adaptadas à região, conforme arranjo da área produtiva
próxima de sua residência apresentado por Luciano. Esse consórcio é denominado
de Sistemas Agroflorestais – SAF’S que possibilita o melhor usufruto da
propriedade e seu auto-sustento familiar bem como menor agressão ao meio
ambiente.
Mercado
Velho
No dia seguinte, 07, novamente
visitamos o Centro Cultural Mercado Velho, porém dessa vez J. Filho e Carlos
Jorge abordaram outras questões como a importância do dinamismo do circuito rural-urbano
para a economia local e reforçando a importância central da cidade para essa
parcela territorial do Nordeste Paraense. Nessa ocasião, explicaram que pela
manhã o fluxo do transporte (ônibus, micro-ônibus e vans) corresponde ao
transporte de moradores e agricultores das comunidades pertencente à
Igarapé-Açu e também aos municípios vizinhos para efetuarem compras,
pagamentos, recebimentos, venda de produtos entre outros. Enquanto que à tarde,
o acontece o transporte de estudantes que vêm dessas localidades para as
principais escolas da rede pública de ensino.
Conforme tratamos em: A IMPORTÂNCIA DO CIRCUITO RURAL-URBANO DOS TRANSPORTES PARA A ECONOMIA DE IGARAPÉ-AÇU, no link:https://geografia-cartografia.blogspot.com/2017/11/a-importancia-do-circuito-rural-urbano.html
Em seguida, adentramos ao espaço cultural do Mercado Velho onde foi perceptível o resgate da memória de Igarapé-Açu através de imagens que retratam distintos períodos da sociedade igarapeaçuense. J. filho fez uma breve contextualização geral desses períodos e momentos históricos passando pela própria estrutura do prédio e sua importância durante o auge da Estrada de Ferro e de seus comerciantes e lojistas da época que depois migraram para a Avenida Barão do Rio Branco, expandindo e fortalecendo o centro comercial local. Explanou sobre os demais prédios históricos, as manifestações culturais e religiosas, além de pontos turísticos (FREITAS, 2005).
Comunidade
do Livramento (Ponte de Ferro E Estação do Trem)
Para finalizar o roteiro desse
Trabalho de Campo, a última visita foi na comunidade de Livramento, onde na
oportunidade visitamos a Ponte de Ferro sobre o rio Maracanã e em seguida as
ruínas da estação do trem. No primeiro local, J. Filho fez breve contexto da
historicidade da comunidade, sendo esta uma comunidade de remanescentes
quilombolas. Sobre a ponte da Estrada de Ferro sobre o rio Maracanã, J. Filho
frisou que esta é um marco da Amazônia Atlântica onde sua arquitetura foi
proveniente da Europa durante o período áureo da borracha e materialização do
meio técnico. É um simbolismo daquele período que dinamizou as transformações
socioespaciais regional por ser um instrumento dinamizador do processo político
e territorial.
Nas ruínas, à 200 metros das margens direita da PA-242, o Professor Carlos Jorge explicou sobre as espacializações e espacialidades das localidades e estações. E nesse ambiente cercado por árvores de diversas espécies e um clima agradável J. Filho, Carlos Jorge e Clay Chagas fizeram as considerações finais sobre o roteiro e o itinerário do Trabalho de Campo. Os acadêmicos também mostraram satisfação em participar dessa atividade que será de grande valia para os mesmos discernirem sobre os aspectos relevantes sobre o espaço dessa parcela territorial do Nordeste Paraense.
Decerto, o empenho é coletivo e neste momento agradecemos aos Acadêmicos do Curso de Geografia Belém, que demostraram grande interesse em conhecer mais sobre Castanhal e Igarapé-Açu; aos professores Clay Chagas e Carlos Jorge N. de Castro que organizaram acreditaram no bom andamento do trabalho; aos pesquisadores do GEOCAM: Francisco Assis, João Barros Filho, Rodrigo Sá; aos nossos agentes parceiros: Kássia Magalhães (gerente da FEIGRA - UFRA), ao senhor Luciano (produtor rural); à coordenação do Campus de Igarapé-Açu; ao nosso motorista Jorge, servidor da universidade que muito bem nos conduziu no Trabalho de Campo Interdisciplinar I.
REFERÊNCIAS
EGLER, Eugênia G. “A Zona Bragantina no
Estado do Pará.” Revista Brasileira de Geografia, 1961: 71-102.
FREITAS, A. M. Memória de
Igarapé-Açu. Belém: Gráfica SUPERCORES, 2005.
RIBEIRO, Willame de Oliveira. ““Das
frágeis conexões às múltiplas interações: estruturação e periodização da rede
urbana do nordeste paraense”.” Anais do XI Encontro Nacional da Anpege:
a diversidade da geografia brasileira: escalas e dimensões da análise e da
ação. Presidente Prudente: Anpege, 2015. 5909-5920.
SANTOS, Milton. A Natureza do
espaço: Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Edusp. 2006.
Texto: Geocam (2019).
Contribuições: Assis Lopes; João Barros Filho; Rodrigo Sá (2019).
Nenhum comentário:
Postar um comentário