sexta-feira, 11 de outubro de 2019

DIÁLOGOS COM A PESQUISA: A produção Desigual do Espaço Urbano como Condicionante da Violência Urbana na Cidade de Castanhal.


Pesquisador - Sérgio Lima da Silva Junior[1]


A violência e a criminalidade fazem parte do cotidiano urbano da maioria das cidades brasileiras, antes o que se restringia aos grandes centros urbanos, agora faz parte da realidade das pequenas e médias cidades do Brasil. O município de Castanhal passou a integrar a Região Metropolitana de Belém (RMB) em 2011 através da LCE n° 076/2011, e nos últimos anos tem vivido uma realidade similar a essa, onde se verifica que as taxas de criminalidade vêm crescendo progressivamente, e como uma das consequências, observa-se que a população apresenta uma sensação de medo e insegurança constante.

Nesse contexto, as sucessivas análises ao longo de 2014 a 2017 resultaram na robustez encontrada no trabalho intitulado: “A produção Desigual do Espaço Urbano como Condicionante da Violência Urbana na Cidade de Castanhal”, apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Geografia, pelo pesquisador Sérgio Lima da Silva Junior, onde apresentou essa problemática utilizando conceitos de urbano e de violência como unidades analíticas para uma possível compreensão desse processo que vem produzindo nas cidades brasileiras espaços de subversão e do medo.
Este foi o cenário da pesquisa de Sérgio Lima da Silva Júnior, formado em Geografia, no Campus Universitário de Igarapé-Açu (Campus – X) da Universidade do Estado do Pará (UEPA), apresenta uma ampla leitura sobre o espaço urbano e a violência na cidade de Castanhal, a qual pertence a Região Metropolitana de Belém (RMB) e ao mesmo tempo que polariza outros 13 municípios atrelados em sua Região Imediata, a de Castanhal. A pesquisa de Silva Jr, teve como orientador o geógrafo Carlos Jorge Nogueira de Castro, representante do GEOCAM, que fez o convite para socialização da pesquisa desenvolvida por Silva Jr, nesta página.
A atuação de Sérgio Lima da Silva Júnior no Projeto de Pesquisa: “Território, Rede e Violência: agentes territoriais e os homicídios nas cidades de Belém, Ananindeua, Marabá, Parauapebas, Macapá e Palmas” coordenado pelo professor Dr. Clay Anderson Nunes Chagas (UEPA e UFPA) possibilitou maior aproximação com a temática violência urbana; este projeto teve financiamento público e foi executado durante os anos de 2015 e 2017. Neste interim, Silva Júnior, integrou a equipe do Projeto de Extensão: “Produção e Análise da Informação Cartográfica em Segurança Pública” também certificado pelo professor Dr. Christian Nunes da Silva (UFPA-NUMA), sendo executado nos anos de 2016-2017. Assim, ao fim de 2017, sua pesquisa se debruça em compreender estes fenômenos na realidade urbana da cidade de Castanhal.

Espaço Urbano e Desigualdade

No primeiro momento do trabalho, Silva Jr, discute a relação dialética do espaço, enquanto, produto e produtor das desigualdades para compreender a forma que esse espaço urbano é produzido e o que torna esse processo desigual. 
Como bem coloca o autor:

“Inicialmente pretendemos discutir acerca da dialética do espaço enquanto produtor e produto das desigualdades. Enfatizaremos também as ações e táticas empreendidas pelos agentes de produção e reprodução do espaço urbano, de forma que possamos identificar as principais estratégias utilizadas por esses agentes na materialização do espaço urbano/cidade vista como lócus da acumulação do capital.” (SILVA JR, 2017).


Entende-se que a pesquisa trata-se especificamente da produção do espaço urbano moldado/forjado sob a concepção capitalista, que se materializa de forma desigual, atendendo os interesses hegemônicos de determinados agentes de produção espacial, onde esse espaço é visto como mercadoria e a cidade objetiva como palco de acumulação do capital.
Na medida em que o espaço urbano é produzido paralelamente materializam-se as desigualdades socioespaciais nesse espaço. Essas desigualdades são resultados do processo que se condiciona aos interesses dos agentes de produção, no qual aqueles que detêm maior poder aquisitivo podem usufruir dos privilégios que a cidade oferece.

Nesse contexto, Silva Jr. enfatiza os agentes de produção do espaço urbano, dando importância a papel que esses exercem dentro desse processo, onde a forma do urbano se materializa de acordo com seus interesses. Os espaços serão produzidos para atender agentes específicos que comandam esse processo de produção, caracterizando assim a fragmentação e articulação do espaço urbano.

O Fenômeno da Violência Urbana na Cartografia de Castanhal

Mediante a análise desse processo de relações da produção espacial, o autor propõe uma alternativa de discutir a violência urbana no campo dos dilemas da organização do espaço urbano, e assim refletir de que forma a produção do espaço urbano está influenciando na dinâmica da criminalidade violenta na cidade de Castanhal-PA.
Com base no exposto, entende-se que processo de produção do espaço urbano atrelado a interesses do capital e a determinados grupos sociais, engendra diferentes espacialidades. Sendo assim, o trabalho apresentado almejou, por meio dos objetivos abaixo, responder a problemática apresentada no decorrer de toda a pesquisa.
Objetivo Geral da pesquisa busca analisar de que forma as relações de produção desigual do espaço urbano atuam como condicionante da violência urbana na cidade de Castanhal. E de forma mais específica, o pesquisador busca entender a partir do processo de produção desigual do espaço urbano a correlação entre a violência urbana e as desigualdades socioespaciais; e para isso, sua investigação sobre o urbano e a violência como unidades de análise e recursos analíticos da Geografia, são necessários para a compreensão das questões referentes à problemática da violência urbana. Objetivando realizar a sobreposição da cartografia da criminalidade urbana da cidade de Castanhal que compreende as áreas de vulnerabilidades.
Os pontos norteadores utilizados por Silva Jr configuram-se na metodologia direcionada na pesquisa em questão, onde primeiramente caracterizou-se pelo levantamento bibliográfico, onde se fundamentará o campo teórico do trabalho.
Em seguida, o trabalhou apresentou o processo de pesquisa empírica, onde permitiu a reflexão entorno das ideias, hipóteses e problemática relacionadas ao nosso objeto de estudo, essa etapa subsidiou o caráter quantitativo da pesquisa que conjuga várias fontes de dados.
Outras fontes, subsidiaram a análise do pesquisador, tais como, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE), Prefeitura Municipal de Castanhal, Secretaria de Segurança Pública (SEGUP), Sistema Integrado de Segurança Pública (SENASP).
As informações da Secretária de Segurança Pública (SEGUP) referem-se aos índices de homicídios que ocorreram na cidade de Castanhal-PA entre os anos de 2014 a 2015. Esses dados foram fornecidos em formato de pontos de ocorrências, isso possibilitou a produção cartográfica com método de análise espacial de hot spots (manchas críticas ou áreas quentes).
Esse método possibilitou a identificação de conglomerados de bairros com alta concentração de homicídios. Por meio da cartografia produzida, foi feito um acervo fotográfico que busca relatar as referidas características dos bairros que registraram altos níveis de concentração.
Com a produção cartográfica identificou-se que as áreas onde ocorrem os maiores registros de ocorrências no número de homicídios tem sido palco e vivenciado por indivíduos em situações críticas em relação aos demais lugares da cidade, dessa forma, alinhou-se a discussão da hipótese inicial, onde se pensou que a produção desigual do espaço age como uma das condicionantes dos homicídios na cidade.

Considerações

Para o autor, Sérgio Lima da Silva Jr, é válido ressaltar que a cidade de Castanhal não deve ser visto como um lugar mítico do caos, mas como parte de um processo de construção de práticas sociais onde o que sobressai em uma primeira análise, são as profundas injustiças e desigualdades que engendram as mortes quase sempre de categorias sociais dominadas, vivendo, trabalhando ou circulando nesses lugares mais pobres.
A pesquisa de Silva Jr, apresenta-se com importante destaque no cenário da cidade de Castanhal, onde com destreza discute o espaço urbano da cidade que em 2014 contabilizou 83 dos 87 homicídios registrados no município, e no ano seguinte o registro alcança 106 homicídios dos 117 registrados. Decerto, a pesquisa demanda de atualizações, porém apresentam caminhos sólidos e pavimentados da análise criminal aliada ao afiado projeto cartográfico desenvolvido pari passu as reflexões do autor, o que resultou em uma importante contribuição da geografia para a sociedade castanhalense e região.
Texto: Geocam (2019)



[1] Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/4084068004864752

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